"Viagem a Portugal"

O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.

Ontem descobri o primeiro cabelo branco.
Existem decisões a tomar.
Há decisões já tomadas, só falta a coragem...
mas a verdade já está revelada, há muito,
é preciso cortar o cordão umbilical - que tanto nos pode alimentar como sufocar
e uma música apareceu a falar

Rosa

Momentos, horas, minutos...segundos...

É engraçado como quase tudo pode ser explicado, dividido em momentos. Eu pelos menos, sempre que penso na minha vida divido-a em momentos... bons, maus, difíceis, alucinantes, sôfregos, radiantes. . . mas assim, no total, não são os adjectivos que conseguem definir esses momentos, ou, pelo menos, não será um ou dois de certeza. Acho que isto seja, talvez, porque divido a minha vida em três grandes momentos, talvez quatro, e fico em êxtase quando penso que estarei a entrar num quinto e aterrorizada quando voltam os suores frios, o vento demoníaco, a vertigem incontrolável e a noite e o amanhecer são, por vezes, os únicos - e ainda assim raros - períodos de paz.

Mas agora, este momento, sendo o quarto ou o quinto ou o raio que o parta, é o momento em que redescubro o prazer das conversas, em que sorvo as palavras como gotas de um raro néctar, em que ouço, aprendo e partilho. Este momento, sem lugar definido, sem horas contadas, sem palavras pensadas, afiadas como punhais, mas aqui, aqui ninguém se quer matar...
Este momento, é sem princípio nem fim.