sábado, fevereiro 03, 2007

CORREIO

"(...) Esta gente que chega e que me abraça
com palavras. Com braços
por dentro das palavras. Que fazer?
Ah o tempo que passa e o tempo que não passa
este alarme estes gritos cansaços pedaços
do meu país. e os olhos baços lassos
(e por dentro
uma ânsia a ferver
A tempestade acumulada vento a vento

Impossível cantar à mesa de um escritório.
Todo o poema é de rua. Todo o tempo é de combate.
E nada sei de poesia de lavatório:
faço o que escrevo. Escrevo o que faço.

Abraço quem me abraça
bato em quem me bate
Escrever para depois não sei escrever.
Meu tempo é hoje. Tudo o mais é não ser.
Canto o tempo que passa.
Eu sei que passo como o tempo. Eu sei que passo."

Manuel Alegre, in Palavras Ditas